Desde muito tempo tenho o costume de não usar agasalhos e me dar bem com o que as pessoas consideram ‘frio’, já cheguei a acreditar que era só porque gostava, o que me deixava mais adaptado a temperaturas mais baixas, mas acredito mais que seja uma questão de tolerância.
Caminhava pela praça em um dia relativamente gelado, o vento frio e à noite alteravam consideravelmente a sensação térmica. Via pessoas com casacos, toucas e cachecóis. O famoso “Sudoeste” gelava meu braço a ponto de até eu mesmo admitir a baixa temperatura. E apesar de às vezes me fazer ficar um pouco mais encolhido, nunca me incomodava.
O frio, não sendo extremo, é de fato psicológico, e cada um acaba tolerando mais ou menos, dependendo de si. Banho de piscina na madrugada fria e ar condicionado em dias de inverno não são coisas são fora do comum pra mim, tendo meu equilíbrio, pouco do ambiente pode me afetar.
Mas sei lá, depois de tantos dias abdicando do casaco pros outros, eu consegui sentir frio em uma manhã morna, dentro de um carro. Magoado, confuso e com uma dose razoável de tristeza.
É uma espécie de fraqueza que já tomou conta de mim em mais de uma ocasião, completamente coberto por um edredom quente, se enrolando o máximo possível para manter o corpo junto, a fim de afastar um frio que parece vir de dentro. E que não só trás essa insegurança, como também tira o direito ao descanso, ao alimento e até a firmeza corporal.
A cabeça gira e não se contenta em se acalmar, enquanto o tempo parece não querer prosseguir, pensar em conversas e ilusões dá alguma paz, mas ela se esvai tão rápido quanto veio. Andar, falar e até beber água costuma ajudar, mas é difícil estar ali. E até quando se consegue uns minutos de descanso, um susto me tira do breu e me deixa ativo e acelerado, sem a calma necessária para fazer o básico, e assim procede, até vir à luz da manhã.
"...Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar
Eu tô na lanterna dos afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar...
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar...
Uma noite longa
Pra uma vida curta
Mas já não me importa..."
Pra uma vida curta
Mas já não me importa..."
Paralamas do Sucesso - Lanterna dos Afogados
Morando onde moro, o frio de uma mágoa é o único que pode me preocupar, mas ele vem rápido, e dura por dias. E possivelmente nunca estarei aquecido o suficiente para me livrar dele. “The Winter is coming.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário